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quinta-feira, 30 de junho de 2011

Qualidade de Vida no Ambiente Universitário

O Século XXI caminha intensamente para transformações rápidas e drásticas sob todos os pontos de vista, a exemplo do que fora observado no Século XX, cuja nomenclatura de “Era dos Extremos”, tratada por Robsbawn (2005) dimensiona a complexidade das mutações vivenciadas. Acompanhar os passos dessas transformações com a rapidez exigida pelo seu ritmo parece ser um ideal difícil de ser perseguido por grande parte das pessoas. E, embora esse tenha sido um ideário social da Modernidade Líquida, conforme Bauman (2001), a rapidez e fluidez do tempo e do espaço, colocam-nos diante do dilema entre a restrição e a liberdade. O que se observa no cotidiano é a presença de dificuldades de adaptação a essas mutações, bem como o sentimento de inadequação diante delas. As mudanças tecnológicas e sociais observadas na nossa sociedade não têm significado necessariamente melhoria da qualidade da vida das pessoas. Aspectos positivos e negativos dessas mudanças têm sido descritos por vários autores, sendo que grande parte destaca as dificuldades e sentimentos de inadequação, conforme descrito por Bauman (op cit.).

O acesso às tecnologias, especialmente às novas conexões e interconexões, favorece novas formas de relacionamentos, possibilitando a construção de novos laços comunais, segundo Todorov (1996) como possibilitadores de sociabilidade, o que permite intercâmbio de valores, saberes, trocas e reciprocidades, bases necessárias para a construção de subjetividades. Entretanto, essas novas formas de intersujbetividades têm trazido consigo uma série de dificuldades adicionais ao indivíduo, como a dificuldade de manter-se atualizado e “conectado”, a dificuldade de manter relações sólidas, bem como o sentimento de cansaço e estresse diante de tantos estímulos. A possibilidade de comunicação e informação à mão, a qualquer momento, sem limites, parece contribuir para que esta sensação se intensifique. Não raro, surgem relatos de indivíduos que se sentem sob a dominação e totalmente à mercê dessas conexões, como se não tivessem a opção de se manterem “desligados”, “não plugados”. Novas extensões o acompanham mesmo quando estão longe dos seus escritórios: blackberrys, palms, celulares de última geração, dentre outros.

A sensação de dominação parece acompanhar o individuo aos diferentes quadrantes geográficos que percorre. As tecnologias de satélites o mantém sob a égide da comunicação. Com isso, novas demandas de saúde mental têm sido verificadas nos mais diferentes espaços. No ambiente universitário, pela natureza da atividade desenvolvida, há uma intensificação dessas demandas, impactando diretamente na qualidade de vida de sua comunidade. O presente estudo é uma tentativa de analisar um serviço criado a partir dessas demandas e que se posiciona como uma tentativa de trabalhar essas questões.

À contraposição da dominação, libertar-se, segundo Bauman (Op. cit.), “significa literalmente libertar-se de algum grilhão que obstrui ou impede os movimentos; começar a sentir-se livre para se mover ou agir. “Sentir-se livre” significa não experimentar dificuldade obstáculo, resistência ou qualquer outro impedimento aos movimentos pretendidos ou concebíveis.” Para o autor, o problema reside no fato de que pode haver incongruência entre o que se sente como liberdade com o que ela é de fato, sugerindo que as pessoas possam estar satisfeitas com suas condições, sentirem-se livres, mesmo diante da escravidão. A genuinidade da liberdade não reside na supressão das condições objetivas da dominação ou da escravidão, pois não há como se certificar de que as pessoas almejem de fato a perspectiva da libertação, uma vez que nem todos estão dispostos a enfrentar as dificuldades que o exercício da liberdade pode acarretar.
Bauman, citando argumentos de Arthur Schopenhauer, propõe o equilíbrio entre os desejos, a imaginação e a capacidade de agir. Para ele, “o equilíbrio pode ser alcançado e mantido de duas maneiras diferentes: ou reduzindo os desejos e/ou imaginação, ou ampliando nossa capacidade de ação”. Posicionando-se como sujeito do capital, desejar menos significa ir contra a atração da mercadoria ou minimizar sua ação sobre o inconsciente, razão pela qual o autor distingue “ entre liberdade “subjetiva” e “objetiva” – e também entre a “necessidade de libertação” objetiva e subjetiva.

Nesta perspectiva, o indivíduo pode manter-se equilibrado de duas formas: desejando menos, portanto, consumindo menos ou produzindo cada vez mais. Produzir mais é a primeira e imediata decisão, especialmente em países em desenvolvimento como o nosso, onde o indivíduo não chegou necessariamente a um patamar de acesso aos bens de consumo, amplamente difundido em países desenvolvidos e pouco vivenciado por países periféricos. Embora pareça ser o caminho mais lógico, não é necessariamente o mais saudável, via de regra não o é. A perspectiva de desejar menos ou ajustar os desejos tem sido compreendida como visão fracassada, embora parte significativa do globo tem pensado em outras alternativas possíveis, na contramão do consumo a qualquer preço. Idéias como Desenvolvimento Sustentável têm buscado a qualidade de vida das comunidades, intensificando que consumir responsavelmente é possível e pode ajudar na melhoria dessa qualidade de vida. Num sentido macrodecisório, pensar em sustentabilidade parece ser óbvio, entretanto, os desafios maiores ficam a cabo das dinâmicas cotidianas daqueles mais necessitados, especialmente para “ironicamente” aqueles que ainda não acessaram ou se atualizaram nas escalas de consumo. O nível de desemprego está muito alto, principalmente em nosso país. É aterrorizador pensar na possibilidade de se tornar um desempregado. Diante desse cenário, o que o trabalhador faz? Como vive?

De um modo geral, trabalha produzindo em média 8 horas diárias e volta para casa, cansado e sem dinheiro. Resta-lhe como distração, lazer e realização – o conforto de um sofá ou uma cama, diante da TV. Ele amortiza seus sentimentos perante tantas notícias trágicas que se expõe em grande freqüência, realizando-se através de filmes de super-heróis, ou descarregando sua tensão através de filmes violentíssimos, ou “amando” através de personagens de novelas ou ainda, aprendendo a consumir o que esses personagens todos indicam ser bom, chegando inclusive a “praticar” esportes, assistindo aos melhores atletas, em “shows” de jogos espetaculares. A falta de motivação, o desânimo completo, a freqüente depressão, a vida anti-social e o isolamento quase que total, passam a ser na prática, o cotidiano, o seu passado, presente e futuro.
Não há perspectivas de melhoras... Mas sempre há esperança de um dia consumir mais! Como se isso pudesse compensar e trazer a felicidade que tanto desejam. Bauman (2001) analisando as obras de Freud O mal-estar da civilização e O futuro de uma ilusão, argumenta que para o autor “embora alguns espécimes seletos da humanidade pudessem dominar a arte do autocontrole, todos os demais, e isso quer dizer a vasta maioria, precisavam da coerção para continuar vivos e permitir que os outros vivessem”. Esta renúncia do instinto, por assim dizer, seria o tributo necessário pago à sociedade pela condição de humanidade. Bauman, entretanto, critica tal posicionamento, argumentando que sua validade restringe-se ao âmbito da clínica psicanalítica. Para ele, trata-se antes de um arranjo moderno, onde a face emancipatória também convive com a face coercitiva.

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